É proibide

Fiquei pensando como escrever este texto sem parecer um mimi desnecessário. Escrevi e apaguei. Mas acho que tenho sofrido um certo boicote por ter me enveredado pelos meandros da teoria queer. Parece que perdi a essência gay. Algo de alguma puridade. Só pode ser! Um site relacionado com o mundo gay disse que o livro (TODOS SOMOS BOLHES) não é para seu público, pois, na sua visão, não fala com (ou de /para) os gays porque usei linguagem neutra (não usamos esta língua) e falei de não-binariedade de corpos. BEM, eu tentei usar de todos os artifícios para que a divulgação do livro fosse feita.
Então comecei a me fazer várias perguntas: Pra quem escrevo? Por que eu tematizo tais temas? Por que reforçar os estereótipos de uma escrita de/para/com? Lugar de fala? (houve também quem me perguntou: quem você pensa ao escrever sobre uma trans?). Eu entendo todo o movimento sobre o protagonismo trans e tal. Mas peraí, eu não falei mal, eu não falei contra, e ficcionei uma narrativa com base na minha atividade de professor e ativista. Eu sou um escritor gay. BEM, eu, ratifico o meu entendimento sobre o lugar de fala. Mas você(s) leram o livro? Aí veio a peça Entrega para Jezebel, fizemos um trabalho lindo. O diretor colocou no palco apenas artistas trans/travestis. E, ao final, novamente questionaram: por que uma autoria de um gay cis? Ué ? Conseguimos o edital e fizemos um trabalho em conjunto: todo mundo das letrinhas e dos atravessamentos. Tudo bem! Eu entendo o lugar de fala como algo potencialmente corporificado. Mas me relembro bem de um vídeo da Rita Von Hunty sobre lugar de fala, em que ela chama a atenção para alguns pontos: de onde de fala, quem fala, credibilidade, corporidade; os conceitos de morte da doxa, episteme e sophia (assistam ao vídeo). Quem sobrevive? Os héteros/lgbtfóbicos que se juntam ao caldo daqueles (alheios à produção que se faz para/com/de) que te boicotaram por ajudar a causa dos seus/suas.
Até agora, eu apaguei e reescrevi este texto algumas vezes. Só queria dizer que sou a favor do movimento (artístico, cultural, político, acadêmico etc…) seja ele LGBT ou queer. Embora eu esteja encontrando abrigo na teoria queer para repensar vários assuntos, inclusive de pertencimento.
Mas fica o pedido para aquele(a)s que leram, que lerão o livro TODOS SOMOS BOLHES. Existem algumas postagens minhas que podem ser replicadas e divulgadas. Se quiserem posso enviar mensagem com fotos e tal. Era isso. Obrigado!

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