Resenha ( por Paulo Jorge Vieira)

COMENTÁRIO

⭐⭐⭐⭐

Todos somos bolhes de Roberto Muniz Dias

Algures entre a distopia e a reflexão pessoal sobre género e sexualidade este livro de Roberto Muniz Dias foi uma instigante e provocante leitura.

Imaginando um futuro que nos parece cheio das agruras das mudanças societárias que temos vindo a vivenciar, o autor apresenta-nos uma sociedade que poderemos classificar de pós-género em que os corpos se tornam ciborgues futuristas…

Usando uma linguagem fortemente inclusiva o autor obriga o leitor a acompanhar os detalhes do uso desse método inclusivo. Pessoalmente gostei bastante da estratégia com que o autor nos instiga a ter cuidados no uso de fórmulas não sexistas e transfóbicas.

É nesse mundo futuro que a nossa persona/narrador se lança na procura e busca de um sentido para si mesma. E se a prática de implante ciborg não corre bem esta vai fazendo um caminho de descoberta colectiva enriquecedora da sua vida. Como afirma em determinado momento: “O mais importante era ver que a história daquela comunidade, e aí eu me incluía, residia na contribuição colectiva. Cada membre contava a sua história, mas, ao mesmo tempo, teciam uma colcha de retalhos que se transformava num mapa.”

Esse caminho que é o da procura de um corpo/sentido/desejo leva um conjunto de peripécias que desfazem as teias de pertença societária. Por isso a pessoa narradora desabafa a determinado momento: “perdi minha cidadania, meu pertencimento, e a busca por um novo lugar se resumia a um constante deslizamento entre lugares e desejos.”

E quase quase no final o autor fornece uma chave de entendimento desta história: a ideia das identidades andarilhes como forma de construção de si mesmo ao longo da nossa vida, num constante processo.

A leitura deste pequeno livro foi um momento instigante de provocação pessoal que, sinto, me enriqueceu.

(li de 16 a 17 de Agosto de 2022)

Paulo Jorge Vieira via https://www.facebook.com/pjovieira

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