AMOR SEM ESCALAS…SEM FINAL FELIZ

Não vou falar das expectativas deste filme sob a perspectiva de ele ter  sido feito pelo mesmo diretor de Juno. Não  assisti a este último, mas tenho que confessar  Jason Reitman tratou com maturidade seu novo filme, distanciando-se da proposta anterior.

Clooney não emprestou seu lado Don Juan neste novo filme. Ele convence no seu papel de solteiro convicto, exaltando as benesses da vida sem família e preocupações com fidelidade. A não ser que seu interesse fosse na lealdade para a Compania Aérea, para atingir as famigeradas 10 milhões de milhas.

 A visão é atual, dos EUA no período da grande crise da bolha imobiliária. E nesta perspectiva nefasta,  George Clooney, além de suas palestras motivadoras- que, em resumo, apregoam uma filosofia do “my world is my oyster”-, ele tem a incumbência de demitir funcionários de diversas empresas.  A missão é ingrata, mas ele se mostra bastante hábil com o mister.

Cloney é Ryan Bingham solteirão convicto avesso ao casamento, crianças e monogamia. Suas palestras revelam uma filosofia misantrópica criada sob a prática de uma vida de autossuficiência. Assim, encrespado sob essa couraça filosófica denominada “Empty Bagback” fica fácil desempenhar seu trabalho.

Enquanto isso, Ryan vive sua rotina de cidade em cidade, promovendo palestras e demissões num ritmo frenético. Mas ele parece acostumado com sua vida de endereço incerto. Numa passagem do filme, ele revela que passou 322 dias viajando, e que passou quase 40 dias infelizes em casa. 

No entanto essa rotina sofre um ligeiro abalo com a intervenção de uma nova funcionária que trouxe a facilidade da teleconferência para as demissões. Gastos e desgastes com viagens seriam reduzidos. Mas isto provocou mudança na maneira contraditoriamente humana com a qual as demissões eram feitas. Sem a figura de Ryan, as demissões pareciam mais contundentes.  Há uma cena na qual a idealizadora dessa inovação, participa de uma das demissões que, mais tarde, resultou no suicídio de uma dessas pessoas demitidas.

A atuação de Cloney nos convence de que, em pese todas as adversidades deste trabalho ingrato, se sente feliz com suas convicções filosóficas. No entanto, sua rotina parece sair do seu ritmo normal nos encontros não mais fortuitos com Alex ( Vera Farmiga) e o pedido esdrúxulo da irmã. É neste contato com a irmã, que está se casando, que Ryan se vê obrigado a salvar o casamento da irmã aconselhando, a contragosto, o cunhado a não desistir do casamento.  

De volta a sua rotina, e de volta a sua casa ele tem uma visão epifânica sobre sua condição de solteiro. E durante uma palestra sobre sua filosofia “Empty Bagpack”, não consegue mais dissertar sobre sua ideia fajuta, e em desespero deixa a platéia e segue em tresloucado destino a Alex. Mas acaba descobrindo que a vida que levava com Alex fazia parte de um outro mundo. Alex era uma mulher casada e com filhos. A decepção é destruidora.

O filme inicia com várias imagens aéreas, especialmente de nuvens, provavelmente em fotos capturadas através de janelas de aviões. A música de fundo fala sobre a terra ( em sentido de lugar) pertencer a  quem canta, a quem ouve,  pode ser Nova York, California, etc. Alusões ao fato de termos o senso de pertencimento a família, aos amigos, a terra em si. Toda essa composição se complementa, no final, com a assunção de que Ryan – narrando sua atual condição – é uma estrela: “ Numa casa em que a famílias olham pro seu, sou luz num céu estrelado, mas, na realidade,  a indicação dessa luz estrelar é apenas a lâmpada de uma das asas de um avião onde estou.”

por Roberto Muniz Dias Postado em Sem categoria Com a tag

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